Dentro da psicologia junguiana existe o conceito de sincronicidade, em um outro momento vou falar mais a respeito deste conceito até porque é um assunto longo e é preciso mais que um post; mas para entender o que motivou este texto, basta saber que a sincronicidade são as “coincidências significativas”, ou seja, fatos que nos acontecem ou ocorrem em nosso entorno e que de alguma forma se relacionam com a nossa a nossa vida. E de fato tudo que eu escrevo aqui, sempre tem uma sincronicidade ou um fato observado na minha vida ou no meu trabalho dentro do consultório.
Este final de semana foi dividido entre um trabalho e um casamento, e diga-se de passagem QUE CASAMENTO !! Um exemplo escancarado de que a vida está nos detalhes, parabéns aos meus amigos por me proporcionaram esse momento!!!
No momento da cerimônia do casamento, uma frase do celebrante – pessoa que estava realizando a união dos noivos – mexeu profundamente comigo. No meio do discurso em que ele falava de suas inspirações para celebrar a união dos noivos, disse não ter encontrado nenhum poeta que falasse do casamento em si, pois os poetas falam de amores e paixões. O casamento acabou e fiquei com essa frase em mim; dias depois eu estava escrevendo um e-mail para Marcella e essa frase por acaso entrou no assunto do e-mail – ok confesso, na verdade esse e-mail era uma pequena declaração – homens, isso faz bem para relação, podem acreditar !!
Escrevendo esse e-mail com toda emoção que transbordava na hora, um pequeno insight ocorreu: talvez seja difícil encontrar poetas que falem do casamento porque poucos tem a coragem de trilhar esse caminho da vida a dois; talvez os grandes poemas de amores e paixões sejam apenas o brilho do sofrimento daqueles que não tiveram forças de seguir em frente e atravessar o que se segue em um casamento, afinal, como disse o celebrante, no casamento a paixão acaba e o amor esfria.
Muitas vezes enxergamos no outro aquilo que idealizamos, aquilo que queremos para nós; constantemente nossos relacionamentos estão apoiados em projeções. Isso quer dizer que muitas vezes não estamos nos relacionando com uma pessoa real e sim com uma projeção idealizada de mulher ou de homem.
Por isso é preciso coragem para se relacionar com outro, para casar com a/o amada(o), porque é certo que em algum momento vamos achar que estamos com uma pessoa que não conhecemos, que nunca vimos na vida.
O casamento é um ato de coragem porque além de ter que viver com alguém que não se conhece terá também que conhecer um Eu que até então a pessoa não sabia que existia em si. E amar alguém que sai da projeção de perfeição que se faz, é sim um ato desbravador!
Ao falar de amor Jung também fala da coragem, mas de uma outra forma:
O amor tem mais do que um ponto em comum com a convicção religiosa: exige uma aceitação incondicional e uma entrega total. Assim como o fiel que se entrega a seu Deus participa da manifestação da graça divina, também o amor só revela seus mais altos segredos e maravilhas àquele que é capaz de entrega total e de fidelidade ao sentimento. Pelo fato de isto ser muito difícil, poucos mortais podem orgulhar-se de tê-lo conseguido. Mas, por ser o amor devotado e fiel o mais belo, nunca se deveria procurar o que pode torná-lo fácil. Alguém que se apavora e recua diante da dificuldade do amor é péssimo cavaleiro de sua amada. O amor é como Deus: ambos só se revelam aos seus mais bravos cavaleiros.(JUNG, 2011 p.122 )
Talvez esse seja o mesmo medo que as pessoas enfrentem na hora de ir para a terapia, pois no momento que se encontram sentados diante do analista, o que vão encontrar é o desconhecido que exite em si.
O que eu quero dizer, é que há pessoas nesta vida que nunca se enxergaram como realmente são, por isso é preciso coragem para se ver sem as máscaras que decoram o teatro do dia a dia.
É com essa mesma coragem que precisamos para entrar em um casamento e aos poucos ir tirando as máscaras.
Se conhecer sem essas máscaras é um caminho para a auto realização.
Talvez seja essa mesma coragem que os poetas precisam para falar do casamento !!
Daniel Gomes
psicoterapeuta junguiano
dgterapia@gmail.com
referencias
JUNG, Carl Gustav. 2011. Civilização em transição.