Esses dias vi um amigo reclamando do EGO das pessoas, mais especificamente daqueles que exercem um papel de comando, é provável que até mesmo eu estivesse no meio da reclamação já que um dia fui o coordenador dele.
Antes de falarmos sobre o EGO é preciso entender um pouco sobre essa estrutura da personalidade, ou melhor, precisamos entender a estrutura da psique humana. Para entender essa estrutura podemos seguir os conceitos de Freud, onde temos o id, ego e superego e para ficar de forma mais didática, vamos usar a analise transacional que chama essa estrutura de estados de ego ( isso de forma bem leiga, porque eu não sou nenhum especialista ) .
Bom na analise transacional temos 3 estados de ego, o Pai ( que seria o superego ) , Adulto ( que serio o ego ) e a Criança ( que seria o id ), esses estados de ego funcionam da seguinte forma:
- (superego) Pai – fala sobre o que devo fazer;
- (ego) Adulto – o que convém fazer;
- (id) Criança o que eu quero fazer
Agora imagine se o nosso adulto seja contaminado por um estado de ego inadequado para determinada situação, exemplo, uma situação onde você deveria agir como adulto, uma reunião, mas age como uma criança ou como um pai super critico, pronto confusão armada… é chefe que grita, é funcionario que falta e não da satisfação e muitas outras situações…
Vamos aprofundar um pouco mais na psique através do olhar da psicologia analítica, o ego é apenas mais um complexo entre vários que existem dentro da nossa consciência e quando um complexo constela na consciência somos tomados por esse complexo que basicamente se torna autônomo, seguindo a mesma linha da analise transacional, o complexo de ego é contaminado por outro complexo.
Bom até aqui entendemos um pouco mais sobre essa estrutura, mas agora vou adicionar um outro termo, conhecido como persona, que quer dizer máscara. Nós usamos a persona para se adaptar ao meio social, temos uma persona para nossa família, para nossos amigos, para o trabalho etc etc por exemplo Edward Whitmont fala da persona e como usamos ela desde a nossa infância:
Na infância, nossos papéis são determinados pelas expectativas paternas.
A criança tende a se comportar de modo a receber a aprovação dos mais velhos, e esse é o primeiro padrão de formação do ego. Esse primeiro padrão de persona é constituído por julgamentos de valor e códigos de comportamento culturais e coletivos, do modo que são expressos e transmitidos através dos pais; a essa altura, as exigências dos pais e as exigências do mundo externo em geral parecem idênticas.
Problema começa quando existe um exagero na adaptação ou uma falta de adaptação, neste par de opostos temos então a persona e a sombra, Segundo Whitmont:
A coletividade e a individualidade são um par de opostos polares; daí haver um relacionamento de oposição e de compensação entre a persona e a sombra.
Quanto mais clara a persona, mais escura a sombra. Quanto mais a pessoa estiver identificada com seu glorioso e maravilhoso papel social, quanto menos este for representado e reconhecido simplesmente como um papel, mais escura e negativa será a individualidade genuina da pessoa, como consequencia de ser negligenciada dessa forma.
Tudo isso que eu falei acima é era para falar que o problema não é o EGO, o problema é a falta de um EGO estruturado que possa agir sem ser tomado por outros complexos ou vestir uma persona e acreditar que é um ser sagrado onde todas as suas ordens devem ser seguidas a risca.
Desta forma, eu entendo que nenhum curso de gestão de pessoas ou MBA dará ao individuo um verdadeiro conhecimento de si, pois, somente conhecendo a si mesmo é que temos a possibilidade de entender o outro.
Resumindo tudo isso, falta é vontade e coragem para querer se conhecer, para querer crescer internamente.
Acredito que Jung foi muito feliz ao escrever a seguinte frase:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
Traduzindo isso para o mundo corporativo: Conheça toda a empresa, domine todas as metodologias, mas ao tratar com um funcionário, seja apenas um outro funcionário.
Ref. Edward C. Whitmont , A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica , pg 140