A dificuldade do autoconhecimento – por onde eu começo?

Nas últimas semanas tenho pensado muito na dificuldade que algumas pessoas encontram no seu processo de autoconhecimento. Talvez não no processo em si, mas no decifrar os sinais deste processo.
A chave da psicologia analítica é o autoconhecimento. Se questionar, se conhecer, se surpreender, mudar algumas coisas, resignificar outras, aprender a acolher muitos dos aspectos até então negados do nosso ser… É ter uma conversa franca com está outra parte sua que até então vinha pedindo espaço, mas que não era ouvida.
Não nego que se aprofundar tanto em nós mesmos não é algo tão fácil assim; encontramos o que esperávamos junto com tantos outros conteúdos que nem imaginávamos ter. E acredito que este processo só se torna mais difícil pelo fato de crescermos sem essa consciência, seguindo a massa e se contentando com apenas o superficial.
Ser superficial não ajuda em nada na busca do autoconhecimento. Agora, o que anda realmente martelando aqui dentro é a constatação de que muitas pessoas estão bloqueadas na capacidade de sentir. Não sabem sentir, não fazem a mínima ideia onde ou o que as fizeram parar de sentir, não se permitem entrar em contato com o sentir. Ora, se eu não sinto eu fico no superficial da razão; focando apenas no que eu consigo explicar, buscando racionalmente as soluções, de uma maneira quase que mecânica ou robótica.
E enquanto eu me uso o meu racional, o bloqueio do sentir como escudo de proteção, eu não consigo me conhecer. Quando me questionam em sessão “mas como é que eu faço para me conhecer?” eu entendo que a pessoa está se procurando (ou procurando suas respostas) no lugar errado: na razão, no mental. E não será daí que a ‘solução’ vai aparecer.
O processo do autoconhecimento tem que ser embasado pelo sentir. Ao meu ver, é estar presente em cada situação, em cada momento, se observando, olhando e se permitindo conviver com sensações diferentes. Quando eu me permito sentir, eu começo a ter noção dos meus limites. Do que eu gosto, do que eu não gosto, do que eu amo, do que me irrita, do que me deixa em paz, do que me faz feliz, etc, enfim, de todos os sentimentos que o ser humano tem a capacidade de sentir. Assim, começo a montar um quebra-cabeça dos meus sentimentos e em contato com ele, me conheço cada vez mais. Da mesma forma que decorar uma teoria sobre o autoconhecimento não garante em nada que a pessoa transforme algo em sua vida, racionalizar o sentir ou pior, não viver, não vai ajudar em nada. É uma falsa segurança.
Para se conhecer é preciso viver. É preciso estar presente em cada momento, atento ao que se pensa – aos hábitos e padrões – mas principalmente ao que se sente em cada situação. Aí sim o processo é garantido. Sinta, viva e se conheça. 
Marcella Helena Ferreira
Psicoterapeuta Junguiana
marcella@conhecendojung.com.br

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