Nossa fugas e o auto-isolamento – uma doce ilusão !

Esses dias a questão do auto-isolamento apareceu no consultório, eu fiquei por dias pensando sobre o assunto, primeiro pensando se iria gravar algo para o canal ou um post… bom decisão tomada vamos lá, que deixar aqui a nossa visão junguina sobre esse assunto! 

Constantemente vemos pessoas se isolando, seja do amor, de outras pessoas ou até mesmo de si mesmas. Hoje em dia esse auto-isolamento ficou ainda mais sedutor, afinal de contas, com um celular eu posso me sentir pertencente ao mundo, sei tudo que acontece, das noticias, do último post daquele youtuber que você adora, da música que acabou de lançar, da escolha do parceiro ideal com apenas um dedo ou da selfie perfeita para alguém que você nunca viu na vida, mas que é seu melhor amigo!

A mesma simbologia percebemos nas casas, com seus muros altos, cercas elétricas, câmeras de segurança ou fechadura eletrônica que só libera a entrada com a digital. Mas esquecemos de algo importante quando nos isolamos e criamos esses muros, seja através do imaginário, no virtual ou no concreto com o objetivo de se buscar segurança, esquecemos que neste isolamento a pessoa que se isola do lado de dentro deste muro nunca irá conseguir se isolar de si mesma. Esquecemos que junto de nós, há milhares de pensamentos que contra a nossa vontade, tentam a qualquer custo tirar nossa tranquilidade.

A questão toda é que mesmo no isolamento, graças a Deus, existe a sabedoria do divino em nós e que sempre, cedo ou tarde, de forma serena ou na forma de uma doença fisiológica ou mental irá nos empurrar para fora deste isolamento e coloca fim nesta fuga que empreemos. Esse empurrão, muitas vezes, é uma batalha que dura dias, semanas ou meses, mas inevitavelmente acontece e cabe a nós entender ou buscar ajudar para entender a razão a qual tudo isso acontece em nós; cabe a cada um buscar o significado deste episodio na sua própria vida.  

E vale fazer uma analogia aqui, mesmo que o isolamento nos pareça a melhor escolha, ainda sim o inconsciente irá, de alguma forma, demonstrar que precisamos sair deste paraíso pessoal, assim como Adão e Eva, que foram expulsos do jardim do Éden. 
E se você pensar que só foram expulsos porque sofreram uma tentação, então eu deixo aqui uma pergunta, não estavam no paraíso? Ainda sim, com tudo que o paraíso oferecia, algo, de alguma forma os levou a querer mais… Eu até poderia falar muito mais sobre isso, mas a questão do paraíso fica para um outro momento!
Alguns meses atrás coloquei no Face uma passagem de Tagore como forma de agradecimento pelas mensagens de aniversário e acho que esse texto cabe muito bem aqui.

À meia noite, o homem que deseja torna-se asceta declarou: “Eis o momento de deixar minha casa e procurar Deus. 
“Ah, quem foi que me manteve iludido esse tempo todo?” 

Deus lhe sussurou: “Fui eu!” Mas o homem estava de ouvidos fechados.

De um lado da cama, dormia tranquilamente sua esposa, com seu filhinho aconchegado ao peito. O homem disse:

“Quem sois vós que me enganastes esse tempo todo?” 

A voz de Deus falou novamente: “Eles são Deus!” Mas o homem nada ouviu.

O filhinho gritou sonhando, e aninhou-se mais no peito da mãe. Então Deus ordenou ao homem: 

“Pára, seu louco! Não abandones teu lar!” Mas o homem nada ouviu. Então Deus suspirou, lamentando: “Este servo me abandona para sair a minha procura!…”

Então para refletir um pouco, fica a pergunta:

Será que esse auto-isolamento é do mundo ou uma tentativa de se isolar de si mesmo?

Daniel Gomes
psicoterapeuta junguiano
daniel@conhecendojung.com.br

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