Você deve estar se perguntando…não é a mesma coisa? Como posso ser mãe sem ter um filho? Mas te digo que são duas coisas bem diferentes.
Hoje em dia, nas redes sociais, vemos mamães lindas e magras, com seus recém-nascidos fofos, numa rotina deliciosa de puro e grande amor. E sendo enfeitiçadas com tanta beleza, doçura, pelo mundo encantado das mamães de redes sociais, mulheres decidem que também querem providenciar logo um bebê. Nem vou entrar aqui no aspecto arrumar um “engravidante”, termo muito bem empregado pelo meu professor que denomina exatamente a função do homem nesta decisão e nesta relação.
Dizem que quando nasce um bebê, nasce também uma mãe. Eu sinceramente acredito nisso mas infelizmente, tenho escutado histórias que comprovam que não é bem assim. Ter um bebe para tirar fotos lindas e fofas é infinitamente diferente de ser mãe.
Mãe no sentido de cuidar, educar, estar presente. Estar à disposição do filho para amparar nos primeiros cuidados, dar amor, passar segurança tão essencial na formação das crianças, enfim, estar presente. Com papel definido, não de brincadeira. E saber que uma vez mãe, sempre
será mãe. Ou seja, a mãe que irá acompanhar o crescimento desta criança formando um
Quando achamos que a questão foi resolvida, vem uma nova grande diferença que precisa ser
esclarecida: maternidade e maternagem. Maternidade no sentido de gerar uma criança. Mas nem toda mãe exerce a maternagem, que é uma qualidade arquetípica vinda da Grande Mãe, e indica qualidades como cuidado, amparo, afeto e carinho. Que naturalmente serve, que se dedica ao cuidado do outro e faz isso por amor.
No processo terapêutico é muito comum escutar relatos sobre a relação com a mãe, algumas
que não tiveram o básico da maternidade mas muitas que se deparam com um grande dilema:
tiveram mães que não souberam ser mães. E por não ter a referência, não sabem ser mães quando chega a vez. Na análise do conto “O Patinho Feio” do livro Mulheres que Correm com os Lobos, a autora faz uma ótima análise não só do Patinho Feio mas também da mãe, que o desamparou no momento que ele mais precisava… e ela chega à 3 tipos de mães, cada uma reagindo de uma forma diferente a uma situação de conflito como mostra o conto. E ai que eu correlaciono esta análise com a falta de conhecimento sobre a maternagem.
Quantas mães deixam de amparar, de servir, de fazer o papel de mãe com os filhos que acabam sofrendo pela falta de apoio, de sensação de segurança, de um direcionamento para a vida e se tornam fechados para o mundo e para os relacionamentos? Não é porque o filho já entrou na adolescência, por exemplo, que a maternagem não se faz mais necessária. Pelo contrário. Filho pede carinho, pede limite, pede orientação e pede presença. Isso também o ajuda a ir para o mundo e a cortar o cordão umbilical quando se torna adulto.
Mas o que fazer quando se tem um pai e/ou uma mãe que não exercem a maternagem? A pessoa terá que aprender a despertar a sua mãe interior e passar a se cuidar, a se orientar. E exercitar essa característica com si próprio e com os outros. No mesmo livro citado acima,
Mulheres que Correm com os Lobos, a autora fala que quando não encontramos o apoio e sustentação na “família de carne”, devemos procurar uma “família de alma”, e nos sentir acolhidos, treinar o acolhimento ao outro, vivenciar este sentido de família com pessoas que se tenha maior afinidade. Uma pessoa não pode crescer se sentindo sozinha e desamparada. E este papel tão necessário na formação da criança e que permanece para sempre na vida de um filho infelizmente tem sido deixado de lado por mães e pais que parecem querer fugir da responsabilidade, que não querem olhar para baixo e se dedicar ao amparo dos filhos que tanto precisam.
Por isso o alerta. Se quiser ser mãe, seja. Mas não esqueça que a função só começa quando o bebe lindo nasce, e o grande trabalho continua para sempre, principalmente no mundo off-line.
Marcella Helena Ferreira
psicoterapeuta junguiano