Ah o amor….!

Para aproveitar o clima de romance no ar, resolvemos escrever sobre o tema mais gostoso, porém mais difícil de viver que é o amor. E porque eu falo que ele é mais difícil de viver? Pois nossa geração muito se fala sobre o amor e todas as suas teorias, mas pouco se vivencia o amor. Para não ser muito pessoal, basta olhar para sua casa ou para algum amigo seu e constatar: quantos estão de fato abertos para se entregar, para receber e crescer em um relacionamento?

Meses atrás publicamos um texto no blog que falava que muita gente está em um relacionamento, mas que pouca gente se relaciona de fato. E esta ideia cabe aqui também. Namorar não pode ser só um status de rede social, uma foto bacana para receber várias curtidas; namorar é muito mais do que isso. No livro “De onde vem as palavras” (Deonísio da Silva) namorar é estar em amor, e ainda complementa que formou-se este verbo na língua portuguesa para designar uma das variações do amor em um tempo específico, aquele que precede casamento, ou seja, seria uma preparação para uma etapa mais profunda que seria o noivado e um futuro casamento. Mas esta ideia, infelizmente, está longe do que percebemos por aí.
É num relacionamento que nos colocamos à prova, nossas crenças, vontades, limites e expectativas. Por mais que saibamos que na teoria não devemos criar expectativa em relação ao outro, a real é que isso é feito sim e praticamente de forma automática. Nos termos junguiano, essa expectativa tem o nome de projeção, ou seja, ao se apaixonar, projeto no outro o homem/mulher ideal que eu gostaria de ter; empresto a ele/ela características minhas e assim me forço a me relacionar com esta outra parte que é minha mas que eu não tenho consciência disso. Quando o período da paixão acaba, não é a pessoa que mudou. Simplesmente as projeções perdem a força e ambos passam a viver com o outro que de fato é – e neste momento, se não tiver um sentimento base que sustente este sentimento apesar de algumas características que de repente não lhe agrade tanto, o namoro acaba.
Mas o dia dos namorados está aí então vamos falar dos relacionamentos que continuam. Jung tem uma visão sobre o amor que se difere daquele amor passional, romântico que escutamos geralmente. Mas é um amor como forma de Eros, um sentimento profundo que nos faz confrontar com nós mesmos e a partir dele, podemos amadurecer e assim ampliar nossa consciência. É uma entrega para a sua alma, um desejo de se melhorar e assim oferecer ao outro o seu melhor. Quanto mais eu me entrego, mais eu recebo.
Aliás, Jung reforça que o amor não combina com o poder, assim relacionamentos onde um quer possuir o outro, quer mandar mais, ter o controle, enfim, onde alguma relação de poder se constela, não existe o amor. Não se pode amar e querer que o outro seja submisso. É preciso olhar para o parceiro(a) como um outro igual, um companheiro de jornada que com sua história, vai caminhar lado a lado com você. Assim, “ali onde predomina o amor não há vontade de poder, e onde há predominância do poder, não há amor. Um é a sombra do outro”. (JUNG, Sobre o Amor)
Repare que digo que o outro na relação é um companheiro de jornada, que tem suas histórias, seus complexos, seus desejos, etc., ou seja, não podemos exigir que o outro pense, sinta e reaja como nós gostaríamos ou como nós somos. E a beleza deste encontro está em ambos lidarem com as diferenças e juntos sonharem o mesmo sonho – seguir lado a lado para o mesmo destino.  Assim, Jung diz “só podemos desenvolver-nos plenamente quando desenvolvemos as duas coisas, nossa individualidade e também nossa capacidade de nos relacionar”. Parece até um paradoxo, mas sim, se relacionar é uma necessidade humana, mas deixamos que a história colocasse de lado o outro pilar tão importante quanto, que é a necessidade de se manter a individualidade. Quantos namoros vemos por aí que um ou ambos acabam se moldando ao outro e perdem sua personalidade, sua vida, sua singularidade para ser o que o outro deseja?
Talvez muitas pessoas façam isso com a fantasia de que assim o amor será facilitado; que o relacionamento será mais duradouro. Quanto engano. Conseguimos levar essa frágil conduta até a hora em que nosso Self chamará para a realidade. Para se relacionar é preciso de entrega, de verdade, de confrontos – tanto internos quanto externos. (e pelo amor de deus, confronto não é brigas e discussões sem fim…rsrs ninguém aguenta ou merece isso). Confronto é encarar, acolher, tentar se relacionar com a parte que aparece e do jeito que aparece. É entender o que pertence a mim, o que é do outro. É entender os papeis que cada um exerce, é alimentar o sentimento e aceitar o que o outro pode nos oferecer. É optar por estar com a alguém e não sentir que está perdendo algo. Segundo Jung:
 “todo amor verdadeiro profundo é um sacrifício. Sacrificamos nossas possibilidades, ou melhor, a ilusão de nossas possibilidades. Quando não há esse sacrifício, nossas ilusões impedirão o surgimento do sentimento profundo e responsável, mas com isso também somos privados da possibilidade da experiência do amor verdadeiro”
E para encerrar, “como o amor mais fiel e o que se doa ao máximo é sempre o mais belo, nunca se deveria procurar o que pudesse facilitá-lo”. O amor quando verdadeiro é mais forte do que você pode imaginar. E sempre vale a pena!
Feliz dia dos namorados!
ð  Todas as citações foram retiradas do livro Sobre o Amor, coletânea de textos sobre o amor ao longo da obra de C. G. Jung.
Marcella Helena Ferreira
Psicoterapeuta Junguiana

marcella@conhecendojung.com.br

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